O que é antropofagia em psicologia?
- fagnervls
- 24 de abr. de 2024
- 2 min de leitura

Alguns povos daqui, como os Tupinambás e outros povos ameríndios, possuíam rituais de antropofagia que consistiam em matar inimigos e estrangeiros e comê-los. Faziam isto não por fome ou maldade. Isto era uma prática ritual, acreditavam ficar com as forças e virtudes do inimigo.
A antropofagia não se resume a comer fisicamente outros humanos. É uma proposta ética e estética. Uma ética da relação com o outro, com o diferente, com o que está do lado de fora e tudo aquilo que não somos nós mas que acaba rompendo a barreira, a fronteira da membrana e acaba por nos constituir.
Para os europeus se tornou senso comum ver as práticas criadas pelos povos deste continente, como algo selvagem, no sentido mais pejorativo possível.
E de fato, antropofagia retoma o que o pensamento tem de mais selvagem e vivo. Ao contrário ao mito do bom selvagem, é uma apologia ao “mau’ selvagem”, que devora crítica e ritualmente, o colonizador, dito civilizado. Trata-se de uma forma de viver a diferença, que devora qualquer forma de “identidade’ única, fixa, uma devoração critica das imposições ou padronizações.
Portanto, o resgate da antropofagia em seu sentido ético de contato e apreciação de tudo o que é diferente. Esta outra forma de pensar não seria o pensamento dos “selvagens”, mas sim o pensamento em estado selvagem, diferente do pensamento cultivado, docilizado e domesticado”.
Mas diferente do pensamento eurocêntrico, o pensamento antropofágico não despreza o outro. Pelo contrário, devora o outro e tudo o que ele tem de melhor e forte e pôe pra fora tudo o que não é útil, assim, cria-se algo novo e original.
Mais que uma teoria, é um conceito prático, uma ferramenta subjetiva ao alcance de qualquer um – e mais atual e necessária que nunca.
O meu trabalho terapêutico se situa nesta ética do ato de devorar tudo o que for diferente, que for outra coisa e fazer uma transformação. Devorando toda novidade das ciencias, da tecnologia, filosofias, artes e invenções, mas não sem fazer uma leitura critica e situada levando em conta as especificidades de nosso povo, território, problemáticas e desejos. Resgatando práticas ancestrais de cuidado, não como uma inocente volta, mas pra ver o que elas possuem de mais potente e atual.
E desse encontro do novo e do antigo, do terapeuta com paciente, do paciente com a vida: criar algo novo. Na verdade, reencontrar algo.
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